Breve ensaio sobre a importância da aprendizagem da História da Contabilidade e das Partidas Dobradas no ensino das Ciências Empresariais em Portugal
Palavras-chave:
Aprendizagem, Registo contabilístico, Tomada de decisãoSinopse
A contabilidade por partidas dobradas “pode ser conceituada como sendo o método de acordo com o qual a uma variação ou mais variações devedoras de certo valor corresponderá sempre uma variação ou mais variações credoras do mesmo valor e vice-versa” (Ribeiro, 1985, p. 79). No seguimento, revela-se fundamental para um sólido processo de ensino–aprendizagem ensinar e explicar os fundamentos da contabilidade por partidas dobradas, para que um estudante de Ciências Empresariais, tão cedo quanto possível, aprenda eficientemente a contabilizar factos patrimoniais, isto é, aprenda que contabilizar um determinado facto é determinar quais as contas cujo saldo (extensão) variou em função desse facto para depois nelas aplicar as leis do débito e do crédito (regras de movimentação das contas), de acordo com o método das partidas dobradas.
Anualmente, são cerca de 24 000 os estudantes que, em linha com os dados estatísticos oficiais de Fonseca e Encarnação (2012), entram no ensino superior português na área de ensino e formação das Ciências Empresariais (área n.º 34 da Classificação Nacional das Áreas de Educação e Formação – CNAEF). Carvalho (2017) noticia existirem nas instituições de ensino superior públicas portuguesas 21 licenciaturas no ano lectivo 2016/2017 que apresentavam a contabilidade como corpo principal de conhecimentos, três ministradas no ensino superior público universitário e 18 leccionadas no ensino superior público politécnico.
Um facto inexorável comum a esses 24 000 alunos/ano, bem como aos cerca de 1 000 docentes de contabilidade em Portugal (Abreu e David, 2002), respeita ao sistema de contabilidade aprendido e ensinado: o notável e vetusto método das partidas dobradas. Trata-se, bem vistas as coisas, do método contabilístico de informação que qualquer organização utiliza para o registo das suas transacções económicas, seja, por exemplo, uma nação, uma grande companhia de capital aberto, uma pequena empresa, um hospital, uma câmara municipal, um banco ou uma fundação, afinal o tipo de instituições nas quais o aluno poderá vir, no futuro, a desempenhar funções. Com efeito, as partidas dobradas identificam-se como o método de registo contabilístico de eventos e factos patrimoniais vulgarmente utilizado pela contabilidade financeira para a tomada de decisão e para o relato financeiro.
Por estes justos motivos, e também porque é importante reforçar o conhecimento da epistemologia da contabilidade, revela-se útil e pertinente a escolha do tema em epígrafe. Na esteira de Cravo (2000, p. 12), “entendemos que só através da discussão das questões epistemológicas se pode ter uma verdadeira noção dos problemas relacionados com o conhecimento contabilístico”.
Downloads
Referências
Abreu, R. M., e David, M. F. (2002). “Docentes do ensino superior da área de contabilidade: investigação e carreira académica”. Ensino Superior: Revista do SNESup 3, 34-41.
Benavente–Rodrigues, M. (2017). O Erário Régio e as Contas do Reino no Ano de 1765 – o Poder e a Contabilidade. Lisboa: Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade (APOTEC).
Bonavie, J. B. (1758). Mercador Exacto nos seus Livros de Contas […]. Lisboa: Oficina de Miguel Manescal da Costa.
Carqueja, H. O. (2011a). “Luca Pacioli e as partidas dobradas”. Revista Portuguesa de Contabilidade 1(1), 11-48.
Carqueja, H. O. (2011b). ““Mercador Exacto”: primeiro livro, impresso, em português sobre partidas dobradas”. Revista Portuguesa de Contabilidade 4, 609-644.
Carqueja, H. O. (2014). “Tradução de Hernâni O. Carqueja do Particularis de Computis et Scripturis”. In Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC) (Org.) (2014), Actas do VII Encontro de História da Contabilidade da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (81-157). Lisboa (28 Nov.).
Carvalho, J. B. C. (2017). “A investigação, o ensino e a profissão de contabilista: o caso da contabilidade pública”. Comunicação apresentada no XVI Congresso Internacional de Contabilidade e Auditoria (Aveiro, 12-13 Out.), 1-21. Org.: Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) e Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro (ISCAA).
Carvalho, J. M. (1994). Efeitos no Resultado de Modelos Alternativos de Custeio. Coimbra: Instituto Politécnico de Coimbra; Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC). Dissertação a que se refere a alínea b) do n.º 1 do artigo 26.º do Decreto-Lei n.º 185/1981, de 1 de Julho, para efeito de concurso de provas públicas para professor-coordenador da área científica de Contabilidade e Gestão do ISCA de Coimbra.
Costa, C. B., e Alves, G. C. (2021). Contabilidade Financeira (10.ª ed.) Lisboa: Rei dos Livros.
Cravo, D. (2000). Da Teoria da Contabilidade às Estruturas Conceptuais. Aveiro: Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro (ISCAA).
Dean, G., Clarke, F., e Capalbo, F. (2016). “Pacioli’s double entry: part of an intellectual and social movement”. Accounting History Review 26(1), 5-24.
Fonseca, M. P., e Encarnação, S. (2012). O Sistema de Ensino Superior em Portugal em Mapas e Números. Lisboa: Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).
Gomes, D., e Rodrigues, L. L. (2017). “Investigação em história da contabilidade”. In Major, M. J., e Vieira, R. (Orgs.) (2017), Contabilidade e Controlo de Gestão – Teoria, Metodologia e Prática (2.ª ed.) (215-243). Lisboa: Escolar Editora.
Gonçalves, M. (2015). “(Algo de novo sobre) João Baptista Bonavie (1705–1780)”. Comunicação apresentada no VIII Encontro de História da Contabilidade da Ordem dos Contabilistas Certificados (Lisboa, 11 Dez.), 1-14. Org.: Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC).
Gonçalves, M. (2024). História da Primeira Escola de Contabilidade do Mundo – A Aula do Comércio do Marquês de Pombal. Coimbra: Almedina.
Gonçalves, M., e Marques, M. C (2011). “A importância do Marquês de Pombal para a profissão de Técnico Oficial de Contas em Portugal”. Jornal de Contabilidade 406, 4-9.
Guthrie, J., e Parker, L. (2006). “Editorial: the coming out of accounting research specialisms”. Accounting, Auditing & Accountability Journal 19(1), 5-16.
Marques, M. C. (2000a). “A evolução do pensamento contabilístico nos séculos XV a XIX” [parte I]. Jornal do Técnico de Contas e da Empresa 414, 69-72.
Marques, M. C. (2000b). “A evolução do pensamento contabilístico nos séculos XV a XIX” [parte II]. Jornal do Técnico de Contas e da Empresa 415, 107-111.
Monteiro, M. N. (2004). Pequena História da Contabilidade (2.ª ed.). Odivelas: Europress.
Morais, A. I., Lourenço, I., e Lopes, A. I. (2018). Fundamentos de Contabilidade Financeira – Teoria e Casos. Lisboa: Edições Sílabo.
Ribeiro, J. F. (1985). Lições de Teoria da Contabilidade (Geral). Vol. I. Porto: Athena Editora.
Rocha, D., Azevedo, G., e Rodrigues, A. M. (2016). Contabilidade para Todos – Iniciação à Contabilidade (2.ª ed.). Coimbra: Almedina.
Sangster, A. (2010). “Luca Pacioli: o pai do ensino da contabilidade”. Comunicação apresentada no III Encontro de História da Contabilidade da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (Lisboa, 17 Jun.; Braga, 19 Jun.), 1-30. Org.: Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC).
Sangster, A., e Scataglini–Belghitar, G. (2010). “Luca Pacioli: the father of accounting education”. Accounting Education: an International Journal 19(4), 423-438.
Silva, F. V. G. (1948). “Luca Pacioli: o homem e a obra”. Revista de Contabilidade e Comércio 61/62, 5-27.
Yamey, B. S. (2004). “Pacioli´s De Scripturis in the context of the spread of double-entry bookkeeping”. De Computis: Revista Española de Historia de la Contabilidad – Spanish Journal of Accounting History 1(1), 142-154.
Zeff, S. A. (2018). “Instilling historical perspective and a critical faculty in the first undergraduate course in financial accounting”. Issues in Accounting Education 33(3), 95-100.

Publicado
Séries
Categorias
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.